" A minha namorada é a mais bonita deste mundo. Não só pela sua beleza extrerior mas também pela sua presença. Ela tem qualquer coisa desde muito nova, apesar de não saber explicar o quê posso dizer-vos para tentarem entender que ela é o primeiro amor de muitos que nunca tiveram coragem de se chegar a uma mulher tão grande como ela e é o último amor de tantos mais. Acredito que muitos, inclusive sonhem com ela, tê-la uma vez, porque tê-la num sonho remoto é melhor do que não a ter de todo.
É morena, tem a pele gelida mas rosada nas bochechas, olhos grandes, verdes com um brilho diferente e apesar de bastante desastrada; anda na rua com uma confiança de invejar. Às vezes, vejo-a a caminhar e pergunto-me o que ela pensa, o que se passa naquela cabeça para caminhar numa rua cheia e conseguir transmitir que tem tanto para contar. O mais cativante é que ela nunca se importou ou esforçou para tal. É muito gentil, justa e cordeal. Assim como a sua pele é bastante fria, não sei se por defeito, feitio ou se uma máscara que usa desde muito nova mas atrevo-me a dizer que raramente a vi chorar. Pena minha.
Tive-a tanto tempo, de todas as formas que podem imaginar. Vi-a dormir nas mais variadas posições e com imensos pijamas diferentes. Maquilhada, pronta para arrasar o mundo; desmaquilhada, acabada de acordar. Imensas vezes a sorrir, rir e gargalhar, quero imaginar que a fiz feliz. Vi-a irritada, bater com os joelhos nas coisas, não imaginam quantas nódoas negras vi dela por ser desastrada. Vi-a emocionar-se em salas de cinema mas sem soltar uma única lágrima. Vi-a ler, aprender, lutar, desmanchar, cantar, dançar, jogar e cozinhar; que bem que ela o faz. Vi todas as mensagens dela, algumas não respondia, outras desviava. Vi-a a falar comigo e por vezes não a ouvia; ela adorava falar comigo mas eu não a ouvia. Vi-a vestir-se de tantas maneiras e despir-se de tantas outras. Agora que olho para trás, vejo que olhava mas não a vi-a. Que toda a beleza que ela tem, com o tempo, tornou-se indiferente aos meus olhos. Tomei-a por garantida. Estava certo que não ia passar um dia em que ela não me mandasse uma mensagem, me mandassem uma fotografia de algo que ela precisasse de ajuda ou me perguntasse se ainda a amava. Agora que penso, vejo que nunca demonstrei o suficiente, nunca me esforcei o suficiente, porque para ela o meu amor chegava e quando não chegou eu amendrontei-me. Não sabia o que fazer para conquistar uma mulher tão completa como ela. Fiquei sem rumo, dúvidei de mim mesmo e afastei-a.
Ela sempre foi a mulher mais confiante que já conheci. Não se deixava ficar por ninguém. As únicas pessoas que se podiam, pelo menos igualar a ela, eram sempre melhor que ela. Creio que ela usava isso como técnica para nunca deixar de ser mais e melhor. As mãos tremiam, o estômago vomitava por ela saber que cada dia mostrava ser menos recíproco com ela. Amo-a igual a todos os dias, amo-a ainda mais todos os dias mas perdia o apetite por lhe dizer o mesmo todos os dias, "Eu também" dizia eu, "Eu não" demonstrava eu.
Voltando atrás, vendo as nossas fotografias, a forma como ela me olhava, a maneira como ela me tratava, a intensidade como me amava questiono-me onde tinha a minha cabeça. Ela é claramente mais bonita, mais inteligente, mentalmente e emocionalmente, confiante, forte, independente, extrovertida, senhora do seu pequeno e empinado nariz, nunca virou costas a uma tempestade, como podia ela, a tempestade em pessoa virar costas e não lhe fazer frente. Consigo ouvir uma música quando ela anda, quando ela me vê, consigo ainda sentir o seu cheiro na minha almofada, o seu abraço no meu corpo, consigo ainda sentir o seu calor.
A sua independência, a sua forma de ver a vida, a sua vontade insana de viver, assustou-me. Não pensei eu em outra vida se não a minha vida dentro da minha bolha, perto do meu conforto. Quando ela agitou o meu mundo, eu só quis voltar.
A verdade é que todos os homens têm medo de mulheres demasiado bonitas, demasiado confiantes. Têm medo de mulheres que marquem a sua presença quer estejam maquilhadas de vestido ou de calças casuais e de rabo de cavalo. Que saibam responder, ter afirmação. Eu não fui excepção. Ela é mais que tudo, porque tudo multiplicado por cem, não chega aos seus pequenos pés.
Procurei as respostas fáceis, procurei o caminho mais fácil, por medo. Assim que ela me pediu que eu saísse da minha bolha, que corresse atrás dela, eu voltei-lhe as costas. Fugi e corri na direção oposta. Ainda me lembro que ela sorria para mim quando acordava, sinal que era feliz apenas por saber que estava ao lado dela. Fui cobarde, ao primeiro obstáculo não soube como reagir e apenas quis correr. Preferi assim, achando que seria a melhor escolha para os dois com a ideia que poderia ficar melhor com isso e talvez lucrar mais tarde, ser livre, solto mas não houve lucros para ninguém. Pensei que ia sentir-me diferente, pensei que ia sentir um alivio. E eu sinto tudo menos isso. Sinto falta dela, sinto falta dos cabelos que perdia em mim, sinto falta da sua voz, sinto falta das mensagens dela a questionar se ainda gostava dela, hoje respondia diferente, hoje fazia diferente. Não consegui lucrar, hoje só consegui partir um coração, desmanchar uma auto-estima enorme e baixar um nariz empinado.
Tive uma mulher bonita e forte, não soube mantê-la então entrei em pânico, deixei-a e fugi.
O meu erro foi achar que era tudo melhor sem ela, podia sair, ter amigos e amigas, passar mais tempo em minha casa, passear, dormir mais ou menos, ser independente. Hoje vejo-me a fazer essas coisas todas que tanto ansiei fazer e apercebo-me que ela falta lá, que eu escolhi ter este vazio e isso mata-me. Apesar de achar a melhor escolha mando-lhe mensagem, a única coisa que consigo dizer é "Desculpa" porque nada mais me saí, o medo toma conta de mim e não me deixa dizer mais nada. O que hei eu de dizer a uma mulher confiante que já sabe tudo sobre si? O que hei eu de dizer a uma mulher que não precisa de mim para viver mas eu preciso dela? Sou um cobarde, sinto-me um cobarde. A cada mensagem de desculpa a tua voz silencia-se. A falta da tua resposta, tornou-se a maior ressaca da minha vida. Tremo, o meu coração bate à velocidade da luz. Não como mas bebo, emagreço e as gajas feias rodeiam-me cada vez mais. Estou numa espiral, cada vez maior e tu não me dás a mão, não te condeno pois fui eu que saltei para cá. Ninguém me empurrou, magoou ou me deixou. Eu deixei-me a mim mesmo.
Daqui a uns meses vou vê-la, o destino é fodido. Mais bonita que nunca, com um sorriso de orelha a orelha, uma gargalhada histérica. Uma roupa que se vê à distância, que realça todas as suas potências e uma maquilhagem simples mas que grita "Já esqueci o meu ex-namorado". Vou congelar e morrer.
Quando ela me vir, vai inclinar a cabeça e sorrir, como sempre fez. Caminhar até mim, colocar a sua pequena mão e encaixar no meu rosto, como sempre fez. Vou chorar sem me importar o local onde estamos, não imaginam o quanto eu esperei e quis aquela mão no meu rosto. No meio de tanto êxtase, lágrimas, amor e beijos para pôr em dia, espererei ouvir um "Vamos?", como sempre fez. Mas no final do seu sorriso mais bonito e seguro dir-me-á "Eu sei, não tem mal", como nunca fez. "